A edição em inglês do tratado de Santo Atanásio, "On the Incarnation" (Crestwood: St. Vladimir's Seminary Press, 1998), traz uma magnífica Introdução de C. S. Lewis, cuja tradução completa para o português pode ser apreciada no sítio da Profª Gabriele Greggersen.
Eis um fragmento do pensamento de C. S. Lewis sobre a vida e obra de Santo Atanásio:
Agora, o leigo ou amador precisa ser instruído tanto quanto precisa ser exortado. Em nossa época, sua necessidade de conhecimento é particularmente urgente. [...] De minha parte, tendo a achar os livros de doutrina muito mais úteis na devoção do que os livros devocionais e, aliás, suspeito que muitos outros tenham a mesma experiência. Acredito que muitos que acham que “nada acontece” quando eles sentam ou se ajoelham com um livro devocional, achariam que o coração canta espontaneamente enquanto estão trilhando o caminho árduo da teologia com um cachimbo na boca e um lápis na mão.
Trata-se de uma excelente tradução de um grande livro. Santo Atanásio carecia de estima popular por causa de certa sentença do “Credo Atanasiano”. Não vou insistir no fato de que aquela obra não é exatamente um credo e não o era para Atanásio, pois acho que é um belo escrito. As palavras “Quem quer que não a conservar íntegra e inviolada, sem dúvida perecerá eternamente” são a ofensa. Geralmente são mal compreendidas. A palavra operante aqui é “conservar”; não adquirir, nem mesmo crer, mas conservar. O autor, na verdade, não está falando de descrentes, mas de desertores; não daqueles que nunca ouviram de Cristo, nem mesmo daqueles que não o compreenderam e recusaram-se a aceitá-lo, mas daqueles que, tendo realmente o compreendido e nele crido, mais tarde se permitem, por influência da preguiça ou da moda ou de qualquer outra coisa, convidar a confusão a se desenvolver num dos modos de pensamento subcristão. São uma advertência contra a curiosa presunção moderna de que todas as mudanças de crença, embora provocadas, são necessariamente isentas de culpa. Mas esta não é minha preocupação imediata. Mencionei o “credo de Santo Atanásio”, como geralmente é chamado, apenas para afastar do caminho do leitor um fantasma e situar o verdadeiro Atanásio em seu lugar. Seu epitáfio é “Athanasius contra mundum”. Atanásio contra o mundo. Orgulhamo-nos de que nosso país ergueu-se mais de uma vez contra o mundo. Atanásio fez o mesmo. Ele ergueu-se pela doutrina trinitária, “íntegra e inviolada”, quando parecia que todo o mundo civilizado estava regredindo do Cristianismo para a religião de Ário – para uma daquelas religiões sintéticas “sensíveis” que são tão intensamente recomendadas hoje e que, tanto naquela época quanto hoje, incluía entre seus devotos muitos clérigos bastante cultos. A sua glória é não ter mudado com o tempo; e sua recompensa é que hoje ainda permanece quando aquele tempo, como todos os tempos, já passou. [Ler mais]
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