19/08/2013

Ó fronte ensanguentada

“Fronte de Cristo com Coroa de Espinhos” ( 1520-25), Lucas Cranach, o Velho (1472-1553)

Bernardo de Claraval
O tradicional hino “Ó fronte ensangüentada” tem sua origem no longo poema medieval em latim “Salve mundi salutare” (Também conhecido como Rhythmica oratio). O poema foi historicamente atribuído a Bernardo de Claraval (1091-1153), pois eles são coerentes com a sua espiritualidade. No entanto, ultimamente tem-se pensado ser mais provável a autoria do poeta e monge cisterciense Arnulfo de Lovaina (c. 1200–1250).
Os sete cantos do pema "Salve Mundi Salutare” são uma meditação sobre os vários membros de Cristo pendurado na cruz: Ad Pedes, Ad Génova, Ad Manus, Ad Latus, Ad Pectus, Ad Cor, Ad Faciem (Para os pés, joelhos , mãos, lado, peito, coração, e fronte). “Ó fronte ensanguentada” é baseado apenas no sétimo canto deste poema, no “Ad Faciem”, que originalmente inicia com as palavras “Salve caput cruentatum”, exaltando a fronte de Cristo coroada de espinhos.
Paul Gerhardt

O hino, tal como se encontra no Hinário Luterano (nº 88), é uma tradução e reformulação feita em 1656 pelo hinólogo luterano Paul Gerhardt (1607-1676), do sétimo canto do poema. A versão de Gerhardt não é uma tradução do latim. Muitos detalhes são expandidos ou adaptados para sugerir uma contemplação mais pessoal de Cristo na cruz. Embora Gerhardt tenha traduzido todo o poema, é o ultimo canto que se tornou mais conhecido, sendo muitas vezes atribuído à ele por causa de sua reformulação. A versão de Gerhadt em alemão intitula-se “O Haupt voll Blut und Wunden” (Ó Fronte Ensanguentada e Ferida), das palavras iniciais do hino.

A melodia é do compositor luterano renascentista Hans Leo Hassler (1564-1612), era originalmente um madrigal, a canção amor secular “Mein G’müt ist mir verwirret” (Minha alma está transtornada pelos encantos de uma terna donzela) e apareceu pela primeira vez impressa em 1601. A música foi apropriada e ritmicamente simplificada para o hino alemão de Gerhardt em 1656 por Johann Crüger na sua “Praxis Pietatis Mélica”.

Hans Leo Hassler
A melodia do Hinário Luterano “Herzlich thut mich verlangen” (também conhecida como “Ach Herr, Mich Armen Sunder” ou “Passion Chorale”) foi associada com o texto de Gerhardt desde que foram publicadas juntos pela primeira vez em 1656. Mas a primeira associação da melodia com um texto sacro foi na sua junção em 1613 com o texto funeral de Christoph Knoll “Herzlich tut mich verlangen” (daí o nome da melodia). Ela era originalmente uma canção de cortejo publicada por por Hans Leo Hassler em seu “Lustgarten neuer teutscher Gesäng” (1601).

Johann Sebastian Bach arranjou a melodia e utilizou cinco estrofes do hino em sua “Paixão Segundo São Mateus”, a estrofe 6 em sua cantata “Sehet, wir gehn hinauf gen Jerusalem” (BWV 159). Bach também usou a melodia em palavras diferentes em seu Oratório de Natal. Franz Liszt incluiu um arranjo desse hino na sexto estação de sua “Via Crucis” (S.504a).

Vale lembrar também que os sete cantos de “Salve mundi salutare” foram usados para o texto de Dieterich Buxtehude (c. 1637-39 - 1707) sobre os diferentes partes do corpo crucificado de Cristo, intitulado “Membra Jesu nostri patientis sanctissima” (BuxWV 75). Esta obra é conhecida como o primeiro oratório luterano.

No Hinário Luterano da IELB, não temos informação de quem é o tradutor do hino sob nº 88.
Em Hinos da Igreja Evangélica (1939), o hino de nº 27 tem a tradução do Rev. Hans Muller, contendo 7 estrofes. No Hinário da IECLB de 1964 consta sob nº 51, também com 7 estrofes, mas reformulado pela comissão do hinário. Em Hinos do Povo de Deus da IECLB (de 1981) está sob o nº 53, com apenas 5 estrofes, com a primeira estrofe readaptada e as demais seguindo o hinário de 1964.

HINÁRIO LUTERANO – nº 88 

1.Ó fronte ensanguentada,
ferida pela dor,
de espinhos coroada,
marcada pelo horror!
Ó fronte, outrora ornada
de eterna glória e luz,
agora desprezada —
adoro-te, Jesus!

2.Ó rosto glorioso,
que sempre fez tremer
o mundo poderoso,
fizeram-te sofrer!
O quanto estás mudado!
O teu sublime olhar,
de tão atormentado,
não vejo mais brilhar.

3.O que tens suportado
foi minha própria dor;
eu mesmo sou culpado
de tua cruz, Senhor.
Oh! vê-me, aflito e pobre:
só ira mereci;
com tua graça encobre
o mal que cometi!

4.Pertenço ao teu rebanho,
Jesus, meu bom Pastor;
Senhor, favor tamanho
provém do eterno amor.
Do Verbo dos teus lábios
eu sempre me nutri.
Os pensamentos sábios
obtenho só de ti.

5.Momentos de alegria
e grande bem-estar,
ó meu divino Guia,
eu sinto ao meditar
no que por mim fizeste.
A fim de me redimir
a própria vida deste.
É bom a ti seguir.

6.Penhor tão precioso
me vem da tua cruz!
Por este dom gracioso
te louvo, meu Jesus.
Concede fiel me apegue
a ti, no meu final,
e nunca te renegue,
Amigo sem igual.

7.Quando eu partir um dia,
comigo vem estar.
Perfeita garantia
na morte vieste dar.
Que toda a tua angústia
me livre da aflição:
e o diabo e sua astúcia
não mais me afligirão.

8.Consola-me na morte,
lembrando a tua dor;
és meu escudo forte,
glorioso Vencedor.
Estando a contemplar-te,
confiante vou dizer,
feliz, ao abraçar-te:
Assim é bom morrer!

HINOS DOS POVOS DE DEUS – nº 53

1. Ó fronte ensanguentada,
ferida pela dor,
de espinhos coroada,
marcada pelo horror!
Ó fronte, outrora ornada
de eterna glória e luz,
agora desprezada
adoro-te, Jesus!

2. Ó rosto glorioso
que sempre fez tremer
o mundo poderoso:
Fizeram-te sofrer!
O quanto estás mudado!
O teu sublime olhar,
cruelmente atormentado,
deixou já de brilhar.

3. O que tens suportado
foi minha própria dor;
eu mesmo sou culpado
de tua cruz Senhor.
Ó vê-me, aflito e pobre:
castigo mereci;
com tua graça encobre
o mal que cometi!

4. Senhor, teu sofrimento
conforta o coração.
Por teu cruel tormento
obtenho a salvação.
Ó dá que eu permaneça
contigo, fiel Senhor!
Morrendo, eu adormeça
em ti, meu Salvador!

5. No termo desta vida,
ó não me deixes só!
Concede-me guarida,
levanta-me do pó!
E se na dor pungente
meu coração tremer,
vem tu, Jesus clemente,
lembrar-me o teu sofrer!


PAUL GERHARDT - O Haupt voll Blut und Wunden
Paul Gerhardt Gesangbuch


1 O Haupt voll Blut und Wunden,
Voll Schmerz und voller Hohn,
O Haupt, zum Spott gebunden
Mit einer Dornenkron;
O Haupt, sonst schön gezieret
Mit höchster Ehr' und Zier,
Jetzt aber höchst schimpfieret:
Gegrüßet sei'st du mir!

2. Du edles Angesichte,
davor sonst schrickt und scheut
das große Weltgewichte:
wie bist du so bespeit,
wie bist du so erbleichet!
Wer hat dein Augenlicht,
dem sonst kein Licht nicht gleichet,
so schändlich zugericht?

3. Die Farbe deiner Wangen,
der roten Lippen Pracht
ist hin und ganz vergangen;
des blassen Todes Macht
hat alles hingenommen,
hat alles hingerafft,
und daher bist du kommen
von deines Leibes Kraft.

4. Nun, was du, Herr, erduldet,
ist alles meine Last;
ich hab es selbst verschuldet,
was du getragen hast.
Schau her, hier steh ich Armer,
der Zorn verdienet hat.
Gib mir, o mein Erbarmer,
den Anblick deiner Gnad.

5. Erkenne mich, mein Hüter,
mein Hirte, nimm mich an.
Von dir, Quell aller Güter,
ist mit viel Guts getan;
dein Mund hat mich gelabet
mit Milch und süßer Kost,
dein Geist hat mich begabet
mit mancher Himmelslust.

6. Ich will hier bei dir stehen,
verachte mich doch nicht;
von dir will ich nicht gehen,
wenn dir dein Herze bricht;
wenn dein Haupt wird erblassen
im letzten Todesstoß,
alsdann will ich dich fassen
in meinen Arm und Schoß.

7. Es dient zu meinen Freuden
und tut mir herzlich wohl,
wenn ich in deinem Leiden,
mein Heil, mich finden soll.
Ach möcht ich, o mein Leben,
an deinem Kreuze hier
mein Leben von mir geben,
wie wohl geschähe mir!

8. Ich danke dir von Herzen,
o Jesu, liebster Freund,
für deines Todes Schmerzen,
da du’s so gut gemeint.
Ach gib, dass ich mich halte
zu dir und deiner Treu
und, wenn ich nun erkalte,
in dir mein Ende sei.

9. Wenn ich einmal soll scheiden,
so scheide nicht von mir,
wenn ich den Tod soll leiden,
so tritt du dann herfür;
wenn mir am allerbängsten
wird um das Herze sein,
so reiß mich aus den Ängsten
kraft deiner Angst und Pein.

10. Erscheine mir zum Schilde,
zum Trost in meinem Tod,
und lass mich sehn dein Bilde
in deiner Kreuzesnot.
Da will ich nach dir blicken,
da will ich glaubensvoll
dich fest an mein Herz drücken.
Wer so stirbt, der stirbt wohl.

TEXTO LATINO - Salve, caput cruentatum

1 Salve, caput cruentatum,
Totum spinis coronatum,
Conquassatum, vulneratum,
Arundine sic verberatum
Facie sputis illita,

2 Salve, cuius dulcis vultus,
Immutatus et incultus
Immutavit suum florem
Totus versus in pallorem
Quem coeli tremit curia.

3 Omnis vigor atque viror
Hinc recessit, non admiror,
Mors apparet in aspectu,
Totus pendens in defectu,
Attritus aegra macie.

4 Sic affectus, sic despectus
Propter me sic interfectus,
Peccatori tam indigno
Cum amoris intersigno
Appare clara facie.

5 In hac tua passione
Me agnosce, pastor bone,
Cuius sumpsi mel ex ore,
Haustum lactis ex dulcore
Prae omnibus deliciis,

6 Non me reum asperneris,
Nec indignum dedigneris
Morte tibi iam vicina
Tuum caput hic acclina,
In meis pausa brachiis.

7 Tuae sanctae passioni
Me gauderem interponi,
In hac cruce tecum mori
Praesta crucis amatori,
Sub cruce tua moriar.

8 Morti tuae iam amarae
Grates ago, Jesu care,
Qui es clemens, pie Deus,
Fac quod petit tuns reus,
Ut absque te non finiar.

9 Dum me mori est necesse,
Noli mihi tunc deesse;
In tremenda mortis hora
Veni, Jesu, absque mora,
Tuere me et libera.

10 Cum me jubes emigrare,
Jesu care, tunc appare;
O amator amplectende,
Temet ipsum tunc ostende
In cruce salutifera.

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