26/12/2024

O NATAL DE NOSSO SENHOR

 


O Evangelho segundo S. João 1: 1-3, 14

 

O apóstolo Paulo, em um único verso de sua segunda epístola aos Coríntios, oferece uma belíssima Pregação de Natal: “O nosso Senhor Jesus Cristo, sendo rico, se fez pobre por amor de vocês, para que, por meio da pobreza dele, vocês se tornassem ricos” (2Co 8:9). Com estas palavras, o Apóstolo recorda um dos principais aspectos do nascimento de nosso Salvador: a humildade! Humildade que é refletida inclusive no anuncio que os anjos fizeram aos pastores que estavam nos campos de Belém: “Vocês encontrarão uma criança enrolada em faixas e deitada em uma manjedoura” (Lc 2:12). De fato, o nascimento daquele que é o Rei dos reis, é marcado e rodeado pela humildade.

Humildade, no entanto, não é algo que, em Jesus, se limita à ausência de bens materiais. Essa condição também reflete a um certo estado de impotência. Por exemplo: na manjedoura repousa um menino frágil, incapaz de se defender ou realizar qualquer coisa sozinho, mesmo sendo ele o “Filho do Altíssimo” (Lc 1:32).

Foi assim, de uma forma totalmente inesperada – e inimaginável, especialmente se tratando do Messias prometido, o Desejado das nações, que – como escreve João, conforme o Evangelho de hoje: “o Verbo, que estava com Deus e que era Deus, se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1: 1, 14).

Vocês já pararam para refletir sobre o que isso significa? O Filho eterno de Deus, glorioso e todo-poderoso, escolheu manifestar-se na humildade e na fragilidade de um menino. O Criador e Senhor de todas as coisas revelou-se na miséria da carne humana. Isso parece absurdo? Não só parece, como é! Afinal, a história e a mensagem do Natal são absurdas! Quem estaria disposto a renunciar tudo o que possui, inclusive a vida, por outro alguém? Jesus Cristo fez exatamente isso! E, como proclamou Paulo, ele o fez “por amor a vocês!

No primeiro Natal, Deus não se colocou no esplendor de um palácio. Ele estava em uma manjedoura, no canto de uma casa, enrolado em panos humildes por vocês! E hoje não é diferente. Ele continua a se manifestar e a se revelar nas coisas mais simples e comuns do cotidiano: em um pouco de água, nas palavras – as vezes trêmulas ou roucas – de um pregador, em folhas de papel, em um pedaço de pão e em um pequeno cálice de vinho. E assim ele continua “por amor a vocês”! Afinal, é claro que Deus pode fazer coisas grandiosas e espetaculares, ele é Deus! Porém, ele prefere muitas agir em humildade. E sabe por quê? Porque assim vocês podem ouvi-lo, vê-lo, tocá-lo, recebê-lo! De outra forma, isto seria impossível para qualquer um.

No primeiro Natal, Jesus Cristo, ao nascer em humildade, iniciou uma dura caminhada. Caminhada esta em que ele tomou sobre si não apenas a miséria das suas necessidades humanas, mas também a sua falência espiritual, as suas transgressões e as suas dores! Tudo o que vocês sofrem, tudo o que vocês passam de ruim, tudo aquilo que traz angústia, medo e tribulação a vocês, Jesus Cristo sentiu, viveu e enfrentou. Ele podia seguir reinando nos altos céus com toda a pompa de sua majestade, mas ele preferiu e escolheu se aproximar de vocês, e fazer por vocês aquilo que era tão necessário. E para tanto, ele precisava agir, e de fato agiu, em humildade.

O nosso Senhor Jesus Cristo, sendo rico, se fez pobre por amor de vocês, para que, por meio da pobreza dele, vocês se tornassem ricos”. Talvez ao ouvir isto, vocês questionem: O primeiro Natal já aconteceu há mais de dois mil anos. Quando essa mensagem irá se concretizar?  Em certo sentido, desde aquele dia ela está se acontecendo em nossas vidas. Afinal, aquilo de mais precioso que existe nós já recebemos por Graça da parte de nosso Senhor: sua Palavra e seus Sacramentos. Inclusive, como ensinou o Apóstolo Pedro, “nós não fomos resgatados com ouro ou prata, mas sim com algo muito mais valioso: o santo e precioso Sangue de Jesus”.

Entretanto, a concretização e a plenitude desta mensagem de Natal se darão, quando no último dia este mesmo Senhor vier novamente para brindar vocês com a maior glória e riqueza que pode existir: a Ressurreição e a Vida Eterna! Naquele dia, a celebração do Natal será concluída, naquele dia o Menino de Belém, o Filho de Maria, o Verbo que se fez carne será tudo em todos, e toda a sua glória e riqueza serão para o deleite de vocês, não por um tempo, mas sim, para todo o sempre!

Enquanto esse dia não chega, olhem para a miséria em vocês e ao seu redor, e ao fazer isso, olhem para a humildade de Cristo; e assim, permaneçam buscando e encontrando o Senhor onde ele prometeu estar, o que, na maioria das vezes, são os locais e as pessoas grandes, fortes e majestosos, mas os simples, pequenos, pobres e humildes.

Para concluir esta Homilia de Natal, recito para vocês um belo texto, escrito por S. Agostinho por volta do ano 400, que retrata muito bem a história do Natal e a mensagem que o nascimento de Cristo traz: “O sustentador do Sol se colocou debaixo do sol. O grandioso que não cabe no universo, deitou-se numa manjedoura. O imenso na forma de Deus se fez minúsculo na forma de servo. O Filho de Deus, gerado por uma mãe que ele mesmo criou e carregado por mãos que ele mesmo formou, se fez filho de homem, para que os filhos dos homens fossem feitos filhos de Deus!

Amém!


Rev. Helvécio J. Batista Júnior
Ministro do Senhor na Igreja Luterana Santíssima Trindade
Naviraí/MS, 2024 AD


Dia de Santo Estêvão: uma lembrança dos sofrimentos no tempo de Natal

O Martírio de Santo Estêvão, por Jean Baptiste de Champaigne (1631–1681)

O dia 26 de dezembro é o Segundo Dia do Natal (Zweite Weihnachtsfeiertag), um feriado em muitos lugares onde a cultura foi moldada pelo luteranismo.

Contudo, a igreja cristã também lembra neste dia o protomártir (i.e. primeiro mártir) Estêvão, um dos santos que fazem parte do “Comites Christi” (latim) ou “Begleiter des Christuskindes” (alemão), o cortejo honorífico do Menino Jesus, juntamente com São João Evangelista (dia 27) e as Crianças Inocentes (dia 28) massacradas por ordem de Herodes.

A lembrança do primeiro mártir cristão neste dia é um convite para não esquecermos que, apesar de toda a alegria da celebração natalina, muitos são perseguidos por causa da sua fé em Jesus Cristo. Em algumas igrejas este dia é dedicado à oração pelos cristãos perseguidos.

Algumas igrejas luteranas costumam ter cultos neste dia (preferencialmente à noite) com os próprios do Dia de Santo Estêvão ao invés do Segundo Dia de Natal, pois a memória do protomártir tem uma tradição mais antiga que o Natal (cf. Evangelischen Gottesdienstbuch). Na Coleta do culto, Estêvão é lembrado como modelo de amor aos inimigos que nos perseguem.

Valerius Herberger (1562-1627), teólogo luterano e pastor na igreja paroquial de Santa Maria, em Fraustadt, Silésia (atual Wschowa, na Polônia) escreveu:

"É um costume antigo e louvável comemorar Santo Estêvão no segundo dia de Natal. Pois assim como as crianças inocentes foram os primeiros mártires após o nascimento de Cristo, assim também Santo Estevão foi o primeiro depois da ascensão de Cristo a louvar o nosso glorioso rei Jesus com o seu sangue. Nossos precursores costumavam dizer: Heri natus est Christus in munda ut hodie Stephanus nasceretur in coelo. 'Ontem Cristo  nasceu no mundo, para que hoje Estêvão pudesse nascer no céu'. Isto é verdadeiramente o fruto do nascimento de Jesus Cristo". 

Fontes: Karl-Heinrich Bieritz. Das Kirchenjahr: Feste, Gedenk- und Feiertage in Geschichte und Gegenwart. Verlag C. H. Beck, 2005. pp. 198, 213-214; Lexikon (Selbständige Evangelisch-Lutherische Kirche - SELK);  Treasury of Daily Prayer. Concordia Publishing House, 2008. p. 1057.

25/12/2024

A Natividade de Nosso Senhor: Dia de Natal (25 de dezembro)

Isaías 52.7-10
Salmo 2
Hebreus 1.1-6 (7-12)
João 1.1-14 (15-18)

A Palavra viva e vivificadora de Deus habita entre nós encarnada

O Senhor envia seus ministros do Evangelho para fazer discípulos “de todas as nações” e “todo os confins da terra verão a salvação de nosso Deus”. Na pessoa do Cristo encarnado, o Senhor “desnudou o seu santo braço” (Is 52.7, 10). O Menino na manjedoura, nascido da Virgem Maria, é a própria Palavra de Deus, o Filho unigênito do Pai, “a quem constituiu herdeiro de todas as coisas e pelo qual também fez o universo” (Hb 1.2). Assim como “todas as coisas foram feitas por ele” (Jo 1.3), assim também todas as coisas são redimidas e renovadas Nele. Em seu corpo de carne e sangue, contemplamos “o resplendor da glória de Deus” (Hb 1.3), “glória como do unigênito do Pai”, “cheio de graça e de verdade” (Jo 1.14) . Ele habita entre nós com paz para que possamos ter vida, luz e salvação Nele. Pois, por sua Palavra do Evangelho, nascemos de novo como filhos de Deus, carregando seu nome e compartilhando sua vida eterna.

ORAÇÃO DO DIA:

Todo-poderoso Deus, concede que o nascimento de teu único Filho nos liberte da escravidão do pecado; através de Jesus Cristo, teu Filho, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.

— Comentário traduzido e adaptado de Lectionary Summaries (The Lutheran Church—Missouri Synod). Salvo exceção, todas as citações da Bíblia Sagrada são da versão Nova Almeida Atualizada (NAA), da Sociedade Bíblica do Brasil. A Coleta é do Culto Luterano: Lecionários (Editora Concórdia).

A Natividade de Nosso Senhor: Alvorada de Natal (25 de dezembro)

Adoração do Cristo Menino e Anunciação aos Pastores (c. 1520-1525), por Bernardino Luini (c. 1480-1532)

Isaías 62.10-12
Salmo 98
Tito 3.4-7
Lucas 2.1–14 (15–20)

Cristo Jesus se revela nos sinais que ele mesmo deu à sua igreja

O Senhor não nos abandonou. Ele veio até nós e nos chamou para sermos “Povo Santo”, “Remidos do Senhor” (Is 62.11-12), “a fim de que, justificados por graça, nos tornemos seus herdeiros segundo a esperança da vida eterna” (Tt 3.7). Em Cristo Jesus, concebido e nascido de Maria, “se manifestou a bondade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor por todos” (Tt 3.4). Agora ele é levantado como “um estandarte para os povos” através do Evangelho (Is 62.10), chamando a todos para se alegrar na sua salvação. São Lucas enfatiza os sinais pelos quais os pastores encontraram a salvação: em Belém, a Cidade de Davi, “envolta em faixas e deitada em manjedoura” (Lc 2.12). O mesmo Senhor Jesus se revela a nós nos sinais seguros e infalíveis do seu Evangelho. Sua Igreja é uma verdadeira Belém (Casa do Pão), pois nela o Filho de Davi, “o Salvador, que é Cristo, o Senhor” (Lc 2.11), nos alimenta com o seu corpo e sangue na manjedoura do seu altar, envolto em, com e sob o pão e o vinho. Meditamos nestes mistérios conforme recebemos a Palavra de Deus e vivemos nossas vocações “glorificando e louvando a Deus” (Lc 2.19-20).

ORAÇÃO DO DIA:

Misericordioso Deus, que fizestes a tua Palavra eterna se encarnar através de Maria, concede graça ao teu povo para abandonar os desejos pecaminosos, a fim de que possa se preparar para a tua visitação; através de Jesus Cristo, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.

— Comentário traduzido e adaptado de Lectionary Summaries (The Lutheran Church—Missouri Synod). Salvo exceção, todas as citações da Bíblia Sagrada são da versão Nova Almeida Atualizada (NAA), da Sociedade Bíblica do Brasil. A Coleta é do Culto Luterano: Lecionários (Editora Concórdia).

A Natividade de Nosso Senhor: Meia-Noite de Natal (25 de dezembro)

 

Adoração dos Pastores, por Gerard van Honthorst (1592–1656)

Isaías 9.2-7
Salmo 96
Tito 2.11-14
Lucas 2.1-14 (15-20)

A Luz de Cristo brilha nas trevas

Céus e terra se alegram nesta noite porque a glória da Santíssima Trindade se manifestou no nascimento humano do “nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo” (Tt 2.13). Através dele a graça, a misericórdia e a paz do Pai repousam sobre o mundo. O silêncio da morte é quebrado por esta “boa-nova de grande alegria, que será para todo o povo” (Lc 2.10). E todos nós que nos desgarramos como ovelhas perdidas e errantes, que “andava nas trevas” da dúvida, do medo e da incredulidade pecaminosa, contemplam uma “grande luz” no nascimento de Cristo (Is 9.2). “A graça de Deus se manifestou” nele (Tt 2.11). Este Filho de Maria que nasceu para nós, este amado Filho de Deus que nos é dado, levará o fardo do nosso pecado e morte em seu próprio corpo na cruz. Ele estabelece assim um governo de paz, “com juízo e justiça”, que não terá fim; não por obra do homem, mas “o zelo do Senhor dos Exércitos fará isto” (Is 9.7).

ORAÇÃO DO DIA:

Ó Deus, que fizeste brilhar a verdadeira Luz nesta santa noite, concede que conheçamos os mistérios desta Luz aqui na terra e possamos alcançar todas as suas alegrias nos céus; através do mesmo Jesus Cristo, teu Filho, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.

— Comentário traduzido e adaptado de Lectionary Summaries (The Lutheran Church—Missouri Synod). Salvo exceção, todas as citações da Bíblia Sagrada são da versão Nova Almeida Atualizada (NAA), da Sociedade Bíblica do Brasil. A Coleta é do Culto Luterano: lecionários (Editora Concórdia).

24/12/2024

A Natividade de Nosso Senhor: Véspera de Natal (24 de dezembro)

O Sonho de São José (c. 1700), por Luca Giordano (1632–1705)

Isaías 7.10–14
Salmo 110.1-4
1 João 4.7–16
Mateus 1.18–25

A Palavra do Senhor se cumpre na carne de Jesus

O Senhor dá um sinal à casa de Davi de que “a virgem conceberá e dará à luz um filho e lhe chamará Emanuel” (Is 7.14). Com esta promessa, Ele quer dizer que a salvação é somente pela sua graça. Não é obra nem realização da humanidade caída, mas obra e dom gratuito do Senhor. A promessa é cumprida quando o Filho de Deus é concebido e nascido da Virgem Maria e o sinal é recebido em fé pela casa de Davi na pessoa de José (Mt 1.20-24). “Se encarnou pelo Espírito Santo na Virgem Maria e foi feito homem” (Credo Niceno). Deus está conosco (Emanuel) na carne de Jesus, o Filho de Maria. José crê nessa Palavra de Deus e assim demonstra um exemplo maravilhoso em sua obediência imediata e silenciosa, tomando Maria para ser sua esposa e cuidando dela com fé e amor. Ele a ama porque o amor de Deus é manifesto nisto, que “o Pai enviou o seu Filho como Salvador do mundo”, “como propiciação pelos nossos pecados” (1 Jo 4.9–10, 14).

ORAÇÃO DO DIA:

Ó Deus, que nos alegras a cada ano quando lembramos do nascimento de teu único Filho Jesus Cristo, concede que possamos recebe-lo alegremente como nosso Redentor e, nesta verdadeira confiança, estaremos prontos a olhar para Ele quando vier como nosso Juiz; através de Jesus Cristo, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.

— Comentário traduzido e adaptado de Lectionary Summaries (The Lutheran Church—Missouri Synod). Salvo exceção, todas as citações da Bíblia Sagrada são da versão Nova Almeida Atualizada (NAA), da Sociedade Bíblica do Brasil. A Coleta é do Culto Luterano: lecionários (Editora Concórdia).

23/12/2024

Antífonas do Ó - Ó Emanuel (23 de dezembro)

Ó Emanuel (23 de dezembro)

Antífonas do Ó

Ó Emanuel, nosso rei e legislador, 
esperança das nações e salvador do mundo: 
vem salvar-nos, Senhor nosso Deus.

LEITURA BÍBLICA: Isaías 43.14a, 15–19a; 7.14–15

Assim diz o Senhor, o seu Redentor, o Santo de Israel: Eu sou o Senhor, o Santo Deus de vocês, o Criador de Israel e o seu Rei. Assim diz o Senhor, que preparou um caminho no mar e uma vereda nas águas impetuosas; que fez sair os carros de guerra e os cavalos, o exército e a força, e eles jazem ali e jamais se levantarão; estão extintos, apagados como um pavio. Não fiquem lembrando das coisas passadas, nem pensem nas coisas antigas. Eis que faço uma coisa nova. Agora mesmo ela está saindo à luz.

Portanto, o Senhor mesmo lhes dará um sinal: eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e lhe chamará Emanuel. Ele comerá manteiga e mel quando souber desprezar o mal e escolher o bem.

HINO:

Ó vem, ó vem, Emanuel!
Redime o povo de Israel,
que geme em triste exílio e dor
e aguarda, crente, o Redentor! (HL 10:1)
Dai glória a Deus! Emanuel
 virá em breve, ó Israel!

Ilustração de Edward Riojas (Veni, Veni, Emmanuel. Kloria Publishing, 2021)