"Lei e Evangelho" (1529), Lucas Cranach, o Velho "1472 – 1553) |
Algo estranho está acontecendo: hoje há um grande silêncio sobre a Terra. Um grande silêncio e uma grande quietude. Toda a terra mantém silêncio porque o Rei está dormindo. A Terra estremeceu e ficou silenciosa, porque Deus adormeceu na carne e levantou todos os que dormiam desde o princípio do mundo. Deus morreu na carne e o inferno estremeceu de medo.
Ele vai, antes de tudo, à procura de nosso primeiro pai, como procura uma ovelha perdida. Desejando muitíssimo visitar os que vivem nas trevas e na sombra da morte, ele vai libertar dos sofrimentos os cativos Adão e Eva, ele que é ao mesmo tempo Deus e filho de Eva. O Senhor entrou onde eles estavam, levando em suas mãos a cruz, a arma com a qual ele ganhou a vitória. Ao avistá-lo, Adão, o primeiro homem que ele criou, bateu no peito cheio de terror e exclamou para todos: “O meu Senhor seja com todos vós”. E Cristo lhe respondeu: “E com o teu espírito”. E tomando-o pela mão, levantou-o, dizendo: “Desperta, tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará”.
“Eu sou o teu Deus, que por tua causa me tornei teu filho. Por amor a ti e e por todos os teus descendentes, agora digo, e com todo o meu poder, ordeno a todos os que são mantidos em cativeiro que saiam para fora, todos que jazem nas trevas sejam iluminados, todos os que estão adormecidos levantem-se. Eu te ordeno: Desperta, tu que dormes, porque não te criei para ser mantido prisioneiro no inferno. Levanta-te dentre os mortos, pois eu sou a vida dos mortos. Levanta-te, obra das minhas mãos, tu que foste criado à minha imagem e semelhança. Levanta-te, deixemos este lugar, pois tu está em mim e eu em ti, juntos somos uma só e indivisível pessoa.
“Eu sou o teu Deus, que por tua causa me tornei teu filho. Por amor a ti e e por todos os teus descendentes, agora digo, e com todo o meu poder, ordeno a todos os que são mantidos em cativeiro que saiam para fora, todos que jazem nas trevas sejam iluminados, todos os que estão adormecidos levantem-se. Eu te ordeno: Desperta, tu que dormes, porque não te criei para ser mantido prisioneiro no inferno. Levanta-te dentre os mortos, pois eu sou a vida dos mortos. Levanta-te, obra das minhas mãos, tu que foste criado à minha imagem e semelhança. Levanta-te, deixemos este lugar, pois tu está em mim e eu em ti, juntos somos uma só e indivisível pessoa.
Por amor a ti, eu, o vosso Deus, me tornei teu filho; Eu, o Senhor, tomei a forma de escravo; Eu, que habito acima dos céus, desci à Terra, e até abaixo da terra. Por amor a ti e por amor à humanidade, tornei-me como um homem sem ajuda, abandonado entre os mortos. Por amor a ti, que deixaste o jardim do paraíso, eu fui traído num jardim e fui crucificado num jardim.
Vê em meu rosto os cuspes que recebi para restaurar-te a vida que uma vez soprava em ti. Vê nas minhas faces os murros que levei para restaurar, conforme à minha imagem, a tua natureza corrompida. Vê em minhas costas as marcas dos flagelos que suportei para remover o fardo do pecado que pesa sobre os teus ombros. Vê minhas mãos firmemente pregadas à árvore da cruz, por ti que outrora estendeste levianamente tuas mãos para a árvore do paraíso.
Eu adormeci na cruz e uma lança perfurou o meu lado por ti que adormeceu no paraíso e saiu Eva do teu lado. O meu lado curou a dor do teu lado. O meu sono vai te despertar do teu sono no inferno. A lança que me perfurou embainhou a lança que estava voltada contra ti.
Levanta-te, deixemos este lugar. O inimigo te levou para fora do paraíso terrestre. Eu, não apenas vou levá-lo ao paraíso, mas vou entronizá-lo no céu. Proibi-lhe a árvore que era apenas um símbolo da vida, mas vê, eu, que sou a própria vida, agora sou um contigo. Eu constituí querubins para guardá-lo como servos, mas agora faço-os te adorarem como Deus, embora não sejas Deus. O trono formado pelos querubins aguarda por ti, seus ajudadores prontos e a postos. O leito nupcial está adornado, o banquete está pronto, as mansões eternas estão preparadas e as casas dos tesouros de todas as coisas boas estão abertas. O reino dos céus está preparado para ti desde toda a eternidade”.
- De uma Antiga Homilia do século IV, de autor grego desconhecido, lida no Ofício das Matinas no Sábado Santo.
Imagem: "Lei e Evangelho" (1529), Lucas Cranach, o Velho "1472 – 1553)
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