Gravura: Martin Luther und Katharina von Bora, por Martin Andrä |
Em 13 de junho de 1525, Catarina e Martinho casam-se no Convento Negro. Quatorze dias mais tarde seguem o comparecimento público do novo casal à igreja e a festa de casamento.
Lutero não é o primeiro monge que se casa com uma freira. Este casamento, porém, ganha atenção especial, e não apenas a favor. Três anos mais tarde, o mestre Joaquim von der Heyden, de Leipzig, dirige uma carta aberta a Catarina, à “pobre mulher seduzida”. Ele a repreende por ter abandonado o convento e ter ido à Universidade de Wittenberg a procura de um “empregado que come fazendo barulho.” [...] Lutero, que recebeu carta semelhante de um outro mestre de Leipzig, escreve zombando de ambos. Apesar disso, deve-se registrar que Catarina mantém seu casamento em contraposição à opinião pública, na medida em que esta ainda é marcada por concepções da Idade Média tardia. O casamento dos teólogos ainda precisa buscar o reconhecimento público.
Do casamento realizado por razões sensatas surge uma relação afetuosa. Com frequência, cita-se o tratamento que Lutero usa nas cartas: “A meu amável e querido senhor Catarina Lutera, (...)”. Ela aparece, assim, como a chefe da casa, para alguns talvez como despótica. Mas esses tratamentos parodiavam tratamentos usuais em correspondências da época, por exemplo, aos príncipes-eleitores. Neles se mostra, antes, uma brincadeira confidencial entre os cônjuges, em que Lutero se coloca como súdito. Esse tratamento, além disso, só é documentado em 1529 e 1530. Mais elucidativo é o fato de que Lutero utiliza com maior frequência os atributos “amável”, “querida” e “amada” nas saudações e como forma de tratamento. A partir de 1534, Lutero se autodenomina em suas cartas “teu querido” ou “teu amado”. Ele também não se envergonha de falar dos relacionamentos mais íntimos, por exemplo quando escreve, 16 dias antes de sua morte: “para que você possa se consolar que, se pudesse, como você sabe, eu a teria amado...”. Nas cartas de Lutero à sua esposa é possível perceber o quanto Catarina se preocupa com ele durante suas viagens, e como Lutero – muitas vezes em tom jovial – se esforça para dissipar as preocupações dela. [...]
A germanista sueca Birgit Stolt, que analisou as cartas de Lutero à sua esposa, conclui: “Dos textos se depreende claramente que esse casamento entre duas pessoas maduras transformou-se em uma relação calorosa e harmônica, um casamento por amor, cuja intimidade não diminui com os anos, mas, pelo contrário, se aprofundou.”
Fonte: Junghans, Helmar. Temas da teologia de Lutero. São Leopoldo: Sinodal, 2001. p. 174-175.
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