"Guardião dos Tesouros da Igreja", por Lawrence Klimecki (California, EUA) |
O que doa com alegria
João 12 e 2 Coríntios 9
Hoje celebramos a festa de São Lourenço de Roma, diácono do século III. São Lourenço é conhecido principalmente por duas características que são refletidas em nossas leituras de hoje: seu cuidado para com os pobres e seu martírio. Em tudo isso São Lourenço brilha com júbilo – um verdadeiro doador com muita alegria.
O ano era 258, dias sombrios para o Império Romano. O governo estava falido e o cristianismo era ilegal - uma combinação atrativa se você é o prefeito de Roma. O imperador tinha ordenado que todos os clérigos da Igreja deviam ser mortos e essa tenebrosa execução já estava bem encaminhada até 7 de agosto de 258. Mas o prefeito de Roma pensou – o que vai acontecer com todas as riquezas da Igreja? Antes de matarmos todos esses caras, vamos descobrir onde as riquezas estão escondidas.
Então, o prefeito da cidade de Roma ordena que Lourenço, diácono chefe, venha para um bate-papo. Como diácono, o trabalho de Lourenço não era apenas ajudar no culto dominical, mas era especialmente zelar pelo patrimônio da Igreja, fazer com que as ofertas do povo fossem usadas corretamente e com sabedoria: fazer com que os templos fossem conservados; que os ministros recebessem seu sustento; que os artigos de culto como o cálice para a comunhão, ou pinturas, ou vitrais, ou paramentos fossem adquiridos e cuidados; fazer com que tudo fosse mantido em boa ordem; e que fossem atendidas as pessoas da Igreja que realmente não podiam cuidar de si mesmas e passavam necessidades. Esse era o trabalho de São Lourenço.
Mas, para o prefeito romano ele era apenas o cara com a chave do cofre. “Dá-nos todas as riquezas da Igreja!”
Agora, coloque-se no lugar de Lourenço. Todo dia você vê seus amigos sendo presos pelo governo e sendo executados por sua fé. Você tem se ocupado em esconder todas as pessoas que você pode, levando pessoas para fora da cidade, etc. Os mais desprezíveis, mais repugnantes tipos de homens estão perseguindo todas as pessoas que você ama, procurando destruir a santa Igreja de Deus.
E agora, além de tudo isso, exigem que você entregue todas as coisas formosas da igreja - todos os cálices de ouro, as pinturas, as obras de arte, que foram adquiridas com donativos do povo. Estes homens perversos exigem que a Igreja dê a eles o dinheiro que o povo de Deus oferta para o sustento dos ministros da Igreja - os mesmos ministros que eles tinham acabado de matar à espada!
Como você responderia? Você estaria abatido demais para levantar? Você perderia as estribeiras num discurso furioso? Você romperia em lágrimas?
E agora, além disso, estão exigindo que você entregue todas as coisas bonitas da igreja - todos os cálices dourados, as pinturas, as obras de arte, que foram adquiridas com as ofertas do povo. Esses homens ímpios estão exigindo que a Igreja lhes entregue o dinheiro que o povo de Deus ofertou para sustentar os ministros da Igreja - os mesmos ministros que eles acabaram de matar à espada!
Como você reagiria? Você já estaria deprimido demais para sair da cama? Você perderia as estribeiras? Você cairia no choro?
Lourenço não. Ele tem um plano. Um plano maluco, cômico, alegre. Mesmo nestes dias sombrios Lourenço podia enxergar o ilógico naquela situação. “Dê-me três dias, prefeito, e lhe entregarei todos os tesouros da Igreja”.
O prefeito ficou muito satisfeito – que fácil! Visto que ele era um homem covarde, ganancioso, sem fé, pensou que todos os homens fossem iguais a ele. Supôs que Lourenço só queria mais três dias para viver e ficaria feliz em trair a sua Igreja pela chance de viver por mais 72 horas.
Só que não. Lourenço tinha um plano: um plano para cumprir seus deveres como diácono e um plano para pregar a peça mais bizarra neste prefeito romano. Assim, durante três dias Lourenço fez uma extravagante farra de compras ao avesso. Cada cálice de ouro, cada obra de arte, cada cadeira, cada luminária, tudo! – ele vendeu tudo. Esvaziou e encerrou as contas bancárias e, em seguida, encheu os bolsos de todos os coxos, cegos, paralíticos leprosos em toda a Roma.
E então, em 10 de agosto, ele pôs em marcha todo o cortejo dos pobres para a frente da porta do prefeito e disse: “Veja aí! Aqui estão os tesouros da Igreja. Como pode ver, somos ainda mais rico do que o seu imperador!”
Enfurecido, o prefeito ordenou que Lourenço não seria decapitado de forma rápida e inescrupulosa, como o resto do clero da cidade – não, ele seria açoitado e depois assado vivo em uma grelha.
Agora, novamente: se coloque no lugar de Lourenço. Você imploraria por sua vida? Ficaria pálido e vomitaria? Desmaiaria? Lourenço não. Ele é um homem de fé. Ele sabe para onde está indo. Ele conhece o Jesus que nos fala hoje no Evangelho, o Pão da Vida, a Semente que foi semeada para dar muito fruto, o Jesus que morreu e ressuscitou. O Jesus que derramou seu sangue para que pudéssemos ser purificados de nossos pecados – o Jesus que se levantou dentre os mortos, glorioso e eternamente vivo, e que nos promete uma ressurreição igualmente gloriosa.
Por isso, Lourenço não implorou. Ele não desmaiou. Ele levou os açoites sem uma palavra. E então quando o lançaram na grelha ardente ele rangeu os dentes e aguentou o sofrimento, mas depois de um tempo ele não pôde se controlar: ele abriu a boca e disse aos soldados: “Rapazes, eu estou pronto deste lado, é melhor me virar mais antes de comer”.
Ah! O Senhor ama quem dá com alegria – e Lourenço foi certamente assim.
Agora, eu espero que você não tenha o mesmo destino dos mártires – mas você certamente tem a mesma fé deles. Então, como não sermos alegres? Não conhecemos o mesmo Jesus que São Lourenço conhecia? Não sabemos para onde estamos indo? Não sabemos que a morte não é o fim da nossa história? Não sabemos que as coisas deste mundo são nada além de ferramentas usadas para propósitos de Deus? Não sabemos que a única coisa que importa é apegar-se a Jesus e seguir seus mandamentos de amor?
Permitindo o Senhor, sua vida não será em nada semelhante e tão dramática tal como a de São Lourenço. Mas eu espero que ela seja repleta de tanta alegria: a alegria vem de conhecer Jesus. O contentamento que torna possível ser um ofertante alegre.
O que podemos aprender do irônico acontecimento com São Lourenço? Diante de um mundo que é extremamente sério com relação a seus pecados, sua ganância e sua crueldade, podemos aprender com São Lourenço a achar graça, a ver quão ridículo o mundo é. As pessoas vivem e morrem por essas coisas bobas: por dinheiro, por poder, de luxúria e por fama. Mas nós vivemos e morrer por Jesus Cristo. O contraste é tão grande que não sabemos se rimos ou choramos. São Lourenço fez as duas coisas. E agora suas lágrimas são enxugadas e ele está muito feliz no céu. Onde aquele prefeito ou aqueles soldados estão depende se eles aprenderam ou não algo de São Lourenço – se eles se apegaram à Palavra e também aprenderam a achar graça deste mundo. Pois humildade, graça, generosidade e coragem, vêm tudo do mesmo lugar: a fé em Jesus.
Em nome de Jesus. Amém.
O Rev. Heath R. Curtis é coordenador do Ministério de Mordomia da LCMS, professor na Wittenberg Academy e pastor na Trinity Lutheran Church (Worden, EUA).
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