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15/02/2016

Quando alguém começa a crer, a tentação não demora

“A Tentação de Cristo pelo Diabo” (1860), Félix Joseph Barrias (1822 - 1907)
"Quando o diabo me tenta, meu coração se consola e a fé se fortalece por saber daquele que venceu o diabo e veio socorrer-me e consolar-me. Assim, pois, a fé vence o diabo. Portanto, o primeiro artigo que importa é que Deus me ensine a fé, para que saiba que Cristo venceu o diabo por mim.
E depois: sabendo que o diabo já não tem poder sobre mim, mas que está vencido por causa da fé, também tenho que pôr-me à disposição para que também seja tentado. E isso terá por resultado o fortalecimento de minha fé e que o próximo encontre consolo e exemplo em minha vitória e tentação.
Lembrem-se disso: Quando alguém começa a crer, a tentação não demora. O Espírito Santo não o deixa descansando e festejando. Logo o exporá à tentação. Por quê? Para que a fé se comprove. Do contrário, o diabo nos levaria às voltas como uma palha ao vento. Quando, porém, Deus vem e pendura em nós um lastro, tornando-nos pesados de sorte que temos que ficar firmes no chão, o diabo e todo o mundo reconhecerão que é o poder de Deus que está fazendo isso. Assim, Deus revela sua glória e majestade em nossa fraqueza. Por isso, lança-nos ao deserto, ou seja, faz com que estejamos abandonados de todas as criaturas, de sorte que não vejamos de onde nos pudesse vir ajuda e chegamos a pensar, inclusive, de estarmos abandonados por Deus. Pois, como age aqui com Cristo, assim age também conosco. Esse caminho não é doce, mas de causar medo à pessoa."

-- Bem-aventurado Martinho Lutero (1483-1546), doutor e reformador da igreja

12/10/2013

Os pais podem ganhar o céu através dos próprios filhos

"Cristo abençoa as crianças" (1540), Lucas Cranach, o Jovem (1515-1586)
“E quem receber uma criança, tal como esta, em meu nome, a mim me recebe. Qualquer, porém, que fizer tropeçar a um destes pequeninos que creem em mim, melhor lhe fora que se lhe dependurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e fora afogado na profundeza do mar”. (Mateus 18.5)

Assim também é verdadeira a afirmação de que os pais podem ganhar o céu através dos próprios filhos, mesmo que não façam outra coisa além de serem pais. Se os pais educam os filhos para que sejam servos de Deus, terão as duas mãos cheias de boas obras por fazer. Pois quem são os famintos, os sedentos, aqueles que não têm roupa, os prisioneiros, os doentes, os estrangeiros, senão as almas de seus próprios filhos (Mateus 25.35-36)? Com eles, Deus transforma sua casa num hospital, colocando-o como diretor do mesmo, para que você cuide deles, os alimente e lhes dê de beber com boas obras e palavras, de sorte que aprendam a confiar em Deus, crer nele, temer e depositar sua confiança nele, honrar seu nome, não jurar nem amaldiçoar, trabalhar, participar do culto e ouvir a palavra de Deus; que aprendam a desprezar as coisas deste mundo, suportar desgraças com paciência, não Ter medo da morte nem amar a presente vida! Oh, que lar e que casamento feliz não é aquele onde existem pais assim! De fato, seria uma verdadeira igreja, excelente mosteiro, sim, um paraíso.
Por outro lado, nada mais fácil para os pais do que serem condenados ao inferno por causa de sua atitude em relação aos filhos, em seu próprio lar, se negligenciam os filhos e não lhes ensinam as coisas mencionadas acima. De que adianta matar-se jejuando, orando, fazendo romarias e praticando toda sorte de obras? Por ocasião da morte e do juízo final, Deus não vai perguntar a respeito disso aí; vai exigir, isso sim, os filhos que ele lhes deu.

-- Trecho de homilia do bem-aventurado Martinho Lutero (1483-1546), doutor e reformador da igreja.

Toda vez que olho e vejo crianças cristãs, vejo a Cristo

Feliz e abençoado Dia das Crianças!
"Cristo abençoa as crianças", Bernard Plockhorst (1825-1888)
"Então, lhe trouxeram algumas crianças para que as tocasse, mas os discípulos os repreendiam. Jesus, porém, vendo isto, indignou-se e disse-lhes: Deixai vir a mim os pequeninos, não os embaraceis, porque dos tais é o reino de Deus. Em verdade vos digo: Quem não receber o reino de Deus como uma criança de maneira nenhuma entrará nele. Então, tomando-as nos braços e impondo-lhes as mãos, as abençoava." (São Marcos 10.13-14)

Por que será que ele não toma nos braços um marmanjo, um rei, ou, então, qualquer um dos santos? Acontece que ele toma uma criança, na verdade uma criança bem pequena, que ainda não tem muita compreensão das coisas, e a abraça . Como isso deixa claro que seu reino é das crianças e que ele, o Senhor, é um duque e príncipe das crianças e deseja estar com elas. Com isso também quer dizer o seguinte: Se quiserem saber quem é o maior, já lhes digo: Se vocês ouvem de mim, são grandes, pois eu sou tudo; e quem receber a mim, recebe o Pai, Criador do céu e da terra; sim, recebe, ao mesmo tempo, céus e terra. Recebe a Deus, como todos os seus dons.
Assim aconteceu que a gente recebe, em primeiro, o menino, Cristo, e, por meio dele, o Pai celeste. Pois não ficarei para sempre entre vocês corporalmente, diz Jesus. em razão disso, quero pôr outra coisa diante de seus olhos, algo que vocês devem estimar como estimam a mim, a saber: “Qualquer que receber uma criança tal como esta, em meu nome, a mim me recebe, e quem receber a mim, recebe a meu Pai”.
Por que, então, deveria eu procurar a Cristo lá longe, ou até mesmo subir aos céus na ânsia de encontrá-lo? Tenho diante de mim tantas crianças cristãs que são imagem e morada de meu amado Senhor Jesus Cristo. Vendo a estas, estarei vendo o próprio Cristo. Se ouço o que dizem, estarei dando ouvidos a Cristo. Se lhes ofereço um copo de água, estarei dando de beber a Cristo. Se lhes dou de comer, estarei alimentando a Cristo. Se lhes dou o que vestir, estarei vestindo a Cristo. E assim, na igreja cristã, terei o mundo cheio de Cristo. Toda vez que olho e vejo crianças cristãs, vejo a Cristo. Se eu pudesse crer nisso!

-- Trecho de homilia do bem-aventurado Martinho Lutero (1483-1546), doutor e reformador da igreja.

24/09/2013

Cristo guarda silêncio e cobre nossos pecados

“A Adúltera diante de Cristo”, Giovanni Battista Pittoni, o Jovem (1687–1767)
"O amor cobre multidão de pecados." (1 Pedro 4.8)
Neste ponto aprendamos a procurar o próximo que é ovelha perdida, cobrindo sua vergonha com nossa honra e deixando que nossa santidade cubra seus pecados.

O que acontece, porém, quando pessoas se reúnem? Falam dos pecados alheios, querendo demonstrar como sentem horror ao pecado. Por isso, quando vocês homens se reúnem, não falem dos pecados dos outros. Da mesma forma,, vocês, mulheres, ao se reunirem, cubram a vergonha dos outros e não criem feridas que vocês não podem curar. Caso você surpreender duas pessoas num quarto, jogue seu manto sobre elas, e não se esqueça de fechar a porta. Motivo? Ora, você também gostaria de ser tratado assim.

Isso é o que Cristo também faz. Ele guarda silêncio e cobre nossos pecados. Ele bem que poderia nos envergonhar e pisar aos pés, mas ele não o faz. E vocês precisam seguir seu exemplo. A virgem deve dar sua grinalda para a meretriz, e a esposa deve dar seu véu para a adúltera e deixar que tudo seja um manto a cobrir os pecadores. Porque todo homem terá sua ovelha a recuperar , e toda mulher sua dracma perdida; e todos os nossos dons devem pertencer também ao outro.

- Bem-aventurado Martinho Lutero (1483-1546), doutor e reformador da igreja (trecho de Sermão de 1522)

 Fonte: Castelo Forte: Devoções Diárias 1983 (São Leopoldo: Sinodal; Porto Alegre: Concórdia, 1983)

11/09/2013

Se alguém cometeu pecado, deve lembrar-se tanto mais de seu batismo

Santo Batismo na Redeemer Lutheran Church (Fort Wayne-EUA)

"Quem crer e for batizado será salvo". (S. Marcos 16.16)

Se alguém cometeu pecado, deve lembrar-se tanto mais de seu batismo, de como Deus, naquela ocasião, entrou em aliança com ele, prometendo perdoar todos os seus pecados, desde que esteja disposto a lutar contra o pecado até a morte. É necessário meditar alegremente sobre essa verdade e aliança de Deus e, então, o batismo voltará a entrar em ação e vigor. Assim, o coração terá, outra vez, para e alegria, não em virtude de obras e satisfações do pecador, mas por causa da misericórdia divina que lhe foi prometida para sempre no batismo. É necessário ficar firme nessa fé. Mesmo que todas as criaturas e todos os pecados nos sobressaltem, devemos ficar firmes na fé. É claro: quem se deixar afastar da fé, transforma Deus em mentiroso no que diz respeito à sua promessa no sacramento do batismo.

— Bem-aventurado Martinho Lutero (1483-1546), doutor e reformador da igreja

Fonte: Castelo Forte: Devoções Diárias 1983 (São Leopoldo: Sinodal; Porto Alegre: Concórdia, 1983)

06/09/2013

Os filhos de Deus não evitam a companhia dos perversos

“Festa de Casamento em Caná” (c. 1530), Jan Cornelisz Vermeyen (1500-1559

Domina entre os teus inimigos”. (Salmo 110.2)
Isso é: não entre os amigos nem entre rosas e lírios, mas em meio a espinhos e inimigos coloquei seu domínio. Disso resulta que todos os que querem servir a Deus e seguir a Cristo precisam suportar muitas picadas e contrariedades, como Cristo mesmo diz: No mundo vocês passarão por aflições, e somente em mim terão a paz. Assim, pois, está determinado por Deus e não será diferente: você terá de dominar em meio a seus inimigos. E quem não quiser sujeitar-se a isso não pertence ao reino de Cristo, pois deseja estar em meio a amigos, sentar-se entre rosas e lírios, não entre os perversos, e sim entre os piedosos.
Ó, seus blasfemos e traidores de Cristo! Se Cristo tivesse procedido assim, quem jamais teria sido salvo? Ele se esvaziou de sua divindade, piedade e sabedoria, e quis ficar entre os pecadores para poder dar-lhes a plenitude. Sim, ele aceitou os pecadores e não queria nada a ver com os espirituais, os piedosos e justos. E vocês, que fazem? Justamente o contrário. Vocês não querem saber dos pecados dos outros e se cobrem de sabedoria e justiça próprias, enquanto Cristo deixou de lado sua sabedoria e justiça própria e tomou sobre si as iniquidades e pecados dos outros. Vejam só como vocês estão seguindo a Cristo!
Os filhos de Deus não evitam a companhia dos perversos. Ao contrário, buscam-na para poderem prestar-lhes ajuda. Não querem ir ao céu sozinhos, mas levar consigo um grande pecador, se puderem.

-- Trecho de homilia do bem-aventurado Martinho Lutero (1483-1546), doutor e reformador da igreja.

28/08/2013

Elevo a Deus a minha voz

"Batismo de Santo Agostinho", Joseph Briffa (1901-1987)

“Elevo a Deus a minha voz, e clamo, elevo a Deus a minha voz, para que me atenda”. (Salmo 77.1)

Se quer um exemplo para este versículo, leia a conversão de Santo Agostinho, no oitavo livro de suas Confissões. Aí encontra a expressa e mais clara comprovação desse salmo. Veja como Santo Agostinho está comovido, mas, mesmo assim, não fala; antes, medita e reflete em pensamentos divinos sobre a salvação dos homens, tal como está descrito aí. Quem, todavia, não tem experiência em tais tentações e pensamentos não terá uma palavra sequer para explicar esse salmo. Por isso tenho dificuldade para falar na tentação porquanto não me encontro em tentação. Pois ninguém é capaz de dizer e ouvir corretamente uma palavra escrita se não se parece com ela nos sentimentos íntimos, para que sinta por dentro o que ouve e fala de fora, e assim diga: É isso mesmo!

-- Trecho de homilia do bem-aventurado Martinho Lutero (1483-1546), doutor e reformador da igreja.

Imagem: "Batismo de Santo Agostinho", Joseph Briffa (1901-1987)

16/08/2013

Jesus, Isaque e Adão


Nesta mesma região (ou seja, na terra de Moriá) Abraão estava disposto a oferecer seu filho Isaque a Deus, o Senhor. Uma vez que Isaque era uma representação prototípica de Cristo, assim também Cristo quis oferecer-se a Deus no mesmo lugar. Sem mencionar o fato de que muitos dos Pais mantiveram a crença de que Adão estava enterrado no mesmo lugar onde Cristo foi crucificado, o Gólgota, Cristo quis oferecer-se a Deus neste mesmo lugar, a fim de mostrar que Ele, como o segundo Adão celestial, queria reconquistar novamente para nós o que tínhamos perdido pelo primeiro Adão.

-- Bem-aventurado Johann Gerhard (1582-1637), pastor e teólogo, na Homilia sobre a Quinquagesima, Postilla I:215.

[Nota: o crânio de Adão no ícone que representa a crucificação, testifica a tradição mencionada por Gerhard]

11/08/2013

O Fariseu e o Publicano

Parábola do Fariseu e o Publicano

O Senhor, no Seu ensinamento, manda-nos orar isoladamente, na solidão ou mesmo em lugares retirados, até mesmo no nosso quarto (Mt 14.23; 6.6), o que se coaduna melhor com a fé. Sabemos que Deus está presente em todo o lado, que ouve e vê todos os homens, que o olhar da Sua majestade soberana penetra até no segredo. Com efeito, está escrito: “Será que Eu sou Deus só ao perto e não sou Deus ao longe? [...] Poderá alguém ocultar-se em lugares escondidos sem que Eu o veja? [...] Não sou Eu que encho o céu e a terra?” (Jr 23.23-24)
O homem de oração, irmãos bem amados, não deve ignorar como o publicano rezava no Templo, em comparação com o fariseu. O cobrador de impostos não levantava os olhos ao céu com descaramento, não erguia as mãos com insolência. Batia no peito, reconhecia os seus pecados interiores e escondidos, implorava o socorro da misericórdia divina. O fariseu, pelo contrário, fiava-se em si mesmo. E foi o publicano que mereceu ser reconhecido como justo. Porque rezava sem colocar a sua esperança de salvação na sua própria inocência, visto que ninguém é inocente. Rezava confessando os seus pecados, e a sua oração foi atendida por Aquele que perdoa aos humildes.

-- São Cipriano (c. 200-258), bispo de Cartago (A Oração do Senhor, §§ 4, 6)

09/08/2013

Tem piedade de mim, que sou pecador


Um fariseu e um publicano subiram até ao Templo para a oração. O fariseu começou por enunciar as suas qualidades, e proclamava: “Ó Deus, dou-te graças por não ser como o resto dos homens, que são ladrões, injustos, adúlteros; nem como este cobrador de impostos” [Lc 18.11]. Miserável, que te atreves a julgar toda a terra! Porque espezinhas o teu próximo? E ainda sentes necessidade de condenar este publicano! [...] A terra não te foi suficiente? Acusaste todos os homens, sem exceção: “por não ser como o resto dos homens [...] nem como este cobrador de impostos. Jejuo duas vezes por semana e pago o dízimo de tudo quanto possuo” [Lc 18.11,12]. Infeliz! Quanta presunção nestas palavras!

Quanto ao publicano, que ouviu muito bem estas afirmações, podia ter retorquido: “Quem és tu para te atreveres a proferir tais murmurações sobre mim? Donde me conheces? Nunca viveste no meu meio, nem pertences ao grupo dos meus íntimos. Por que tamanho orgulho? Aliás, quem pode comprovar as tuas boas ações? Porque fazes dessa maneira o teu próprio elogio, e quem te incita a gloriares-te desse modo?” Mas não fez nada disso ― muito pelo contrário! Prostrou-se por terra e disse: “Ó Deus, tem piedade de mim, que sou pecador” [Lc 18.13]. Porque fez prova de humildade, saiu justificado.

O fariseu abandonou o Templo privado de qualquer absolvição, enquanto o publicano se foi embora com o coração renovado pela justiça reencontrada. [...] E, no entanto, não havia nele ponta de humildade, no sentido em que usamos este termo quando algum nobre desce do seu status. No caso do publicano, portanto, não era de humildade que se tratava, mas de simples verdade, porque ele dizia a verdade.

- São João Crisóstomo (c. 347-407), pastor e teólogo em Constantinopla (Homilias sobre a Conversão, 2)

04/08/2013

O Senhor e sua cidade

"Cristo chorando sobre Jerusalém" (1851), Ary Scheffer (1795–1858)
“Quando Jesus ia chegando, vendo a cidade, chorou, e dizia: Ah! se conheceras por ti mesmo ainda hoje o que te é devido à paz!” (S. Lucas 19.41-42)

No evangelho nos é mostrado um exemplo especial do horrível juízo de Deus sobre sua mais amada cidade, Jerusalém, e seu próprio povo, a cidade que é casa e morada do nosso amadíssimo Senhor Deus, e seu povo, sua criadagem. Pois Jerusalém era considerada como meio céu...
Apesar de tudo isso, sua amadíssima cidade teve que ser destruída da maneira mais cruel, visto que não aceitaram a palavra de Deus e não quiseram obedecer à mesma... Quanto menos poupará outras cidades não comparáveis a Jerusalém, e outros povos que não têm tanta afinidade com Deus como o povo judeu...
Nesse exemplo, havermos que aprender a ira de Deus e prevenir-nos do desprezo da palavra, e que não digamos, como se costuma ouvir: Ora, Deus não vai reparar nisso! Não castigará como firmeza! – Se não poupou sequer a santa cidade de Jerusalém, seu tesouro mais precioso na terra... não pense que ele nos poupará quando cairmos em pecado igual.

-- Trecho de homilia do bem-aventurado Martinho Lutero (1483-1546), doutor e reformador da igreja.

03/08/2013

Ele não está aqui!

“A Ressurreição de Cristo e as Mulheres no túmulo” (1440-42) Fra Angelico (1395-1455)
Os queridos anjos fazem uma bela pregação, pois são bons pregadores. Agora, o resumo de sua pregação é este: Vocês procuram Jesus no túmulo, mas ele, agora, se tornou um homem bem diferente. Vocês creem no Crucificado, mas nós vamos dizer-lhes onde ele se encontra agora. “Ele ressuscitou dos mortos e não está aqui” (cf. Mt 28.5ss). Nesta vida vocês não vão encontrá-lo. Aqui, isto é na morte, não se deve buscar a Cristo. Para ver, apalpar ou ir ao encontro do Cristo são necessários olhos, mãos, pés diferentes. O lugar onde ele estava deitado (diz o anjo) certamente posso mostrar-lhes, mas ele não está mais aqui. Agora, seu nome é: “Ele não está aqui”, como São Paulo também escreve aos Colossenses 3.1-2: “Portanto, se foram ressuscitados juntamente com Cristo, busquem as coisas lá do alto; pensem nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra”.
Cristo não está aqui. Logo, o cristão também não deve estar aqui. Por isso, homem algum pode enquadrar Cristo ou o cristão num modelo fixo, rígido. Pois é dito: “Ele não está aqui”, ele deixou para trás cascas, justiça própria, piedade, sabedoria, lei e outras coisas mais, de tudo isso ele se livrou. Você não deve procurá-lo nas coisas que estão sobre a terra, pois não passam de cascas, e ele jamais voltará a revestir-se de cascas. Por isso, o cristão também não pode ser enquadrado nisso aí, na medida em que é cristão. Ao contrário, assim como Cristo está acima de todas as coisas, também o cristão está acima de tudo. Cristo, por seu próprio poder, venceu e deixou para trás todas as coisas. E porque cremos nisso, também nós, a exemplo dele, somos chamados “ele não está aqui”. Como São Paulo diz: “Não pensem nas coisas que são aqui da terra; porque vocês morreram, e a sua vida está oculta juntamente com Cristo”. Estas são palavras maravilhosas. A vida de vocês está oculta, não numa caixa, pois neste caso a acharíamos, mas naquela que não está em parte alguma. Nossa vida deve estar acima de toda sabedoria, justiça, piedade humanas. Enquanto se fechar em si mesmo, você não é salvo. Isso significa, então, que nossa vida está escondida muito além do alcance de nossos sentimentos, coração, olhos e sentidos.

- Trecho de homilia do bem-aventurado Martinho Lutero (1483-1546), doutor e reformador da igreja.

24/07/2013

Advertência contra os falsos profetas de Cristo: o fundamento e a razão desta advertência

“Jó e seus falsos confortadores” (1452-60), Jean Fouquet (c. 1420 - c. 1480)

Assim como nos três capítulos anteriores, o 5º, 6º e 7º, o Senhor explica os mandamentos de Deus, ele finalmente conclui com estas palavras: “Portanto, tudo o que vós quereis que os homens façam a vocês, façam vós também a eles”, v. 12. Esta é uma doutrina cristã, e a totalidade e completude do cristianismo. Segue-se imediatamente esta leitura do Evangelho, em que o Senhor exerce o ofício de um bom pastor e mestre, e nos adverte para ter cuidado com os falsos profetas. Como se quisesse dizer: vocês já ouviram falar a verdade, portanto, de agora em diante, tenham cuidado com outras doutrinas. Pois é certo que os falsos mestres e falsos profetas surgirão sempre que esta Palavra for pregada.
Devemos considerar seriamente os dois tipos de doutrina, a verdadeira e boa, e a falsa e errônea, e que elas sempre acompanharão uma a outra, pois assim tem sido desde o princípio e assim continuará sendo até o fim do mundo. Por isso, não fará por nós para se arrastam em silêncio, e recorrer a uma forma segura e seguro de vida. Os maus ensinamentos dos homens e doutrinas de demônios e todos os nossos inimigos se opõem a nós sem cessar, e, portanto, não nos atrevamos a pensar que o problema está resolvido. Nós ainda não atravessamos o rio. Portanto, o Senhor diligentemente nos adverte e diz: “Acautelai-vos dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores.

Trecho de homilia do bem-aventurado Martinho Lutero para o Oitavo Domingo após Trindade, baseado no Evangelho de S. Mateus 7.15-23, publicado em sua Postila da Igreja (1522).

11/07/2013

A comunhão do sacramento

“Cristo com a Hóstia”, Paolo de San Leocadio (1445–1520)

“Porque nós, embora muitos, somos unicamente um pão, um só corpo; porque todos participamos do único pão”. (1 Coríntios 10. 17)

Receber este sacramento no pão e no vinho outra coisa não é do que receber um sinal seguro da comunhão e da incorporação em Cristo e todos os santos. [...] Para denotar essa comunhão, Deus também instituiu sinais deste sacramento que em toda parte se prestam a esse fim e, com suas formas, nos estimulam e impelem para essa comunhão. O pão é feito de muitos grãozinhos amassados num bolo. Os corpos de muitos grãos se transformam num só pão. Nele, cada grão perde seu corpo e forma, e assume a forma comum do pão. Assim também as uvas perdem sua forma para se tornarem em um corpo de um só vinho e bebida. Do mesmo modo também nós devemos ser – e de fato somos – se fizermos uso correto desse sacramento. Em seu amor, Cristo, juntamente com todos os santos, assume nossa forma, e conosco luta contra o pecado, a morte e todo o mal. E, a partir daí, ardentes de amor, assumimos a forma de Cristo, confiamos em sua justiça, vida e santidade, e, por meio da comunhão de sua bondade com a nossa miséria, passamos a formar um só bolo, um só pão, uma só bebida, e temos tudo em comum. Oh, este é, de fato, um grande sacramento, conforme diz São Paulo: que Cristo e sua Igreja são uma só carne e um só corpo!
Por outro lado, através desse mesmo amor, devemos transformar-nos e considerar nossas as falhas de todos os demais cristão, assumir sua forma e necessidades, deixar-lhe tudo o que tivermos de bom, para que o desfrutem. Esta é a verdadeira comunhão e o verdadeiro significado desse sacramento. Assim somos transformados um no outro e nos tornamos comuns uns aos outros através do amor, sem o qual não pode haver transformação.

-- Trecho de homilia do bem-aventurado Martinho Lutero (1483-1546), doutor e reformador da igreja (Um Sermão sobre o Venerabilíssimo Sacramento do Santo e Verdadeiro Corpo de Cristo e sobre as irmandades, OSel I, 429; 434)

23/06/2013

Sede misericordiosos, como também é misericordioso vosso Pai

“As Obras de Misericórdia” (c. 1640), David Teniers o Jovem (1610-1690)
Cristo diz que vocês são filhos da graça e da paz, não da raiva e da discórdia, e também são chamados para herdar a bênção. Portanto, você deve também trazer bênção entre as pessoas, em primeiro lugar pela sua pregação e confissão pública e depois também pela sua boa conduta exterior, de modo que quando os incrédulos julgá-lo e condená-lo, tratá-lo sem misericórdia e roubá-lo, você vai ser misericordioso para com eles e não vingar-se, mas ceder e perdoar, e além disso ajudar, amar e abençoá-los, e falar as melhores coisas deles diante de Deus e do mundo, para que eles também possam observar, pela sua boa conduta, que vocês são pessoas piedosas e irrepreensíveis, que não só sofrem o mal, mas também devolvem o bem pelo mal. Assim você vai ter um bom nome entre os descrentes e ser estimado e honrado à minha vista, que sou seu Senhor e Deus.

-- Trecho de homilia do bem-aventurado Martinho Lutero no Quarto Domingo após Trindade

21/06/2013

Perdoai, e sereis perdoados


Jesus prometeu – devemos estar seguros disso – que tudo nos está remitido e perdoado, todavia, sob a condição de que também perdoemos ao nosso próximo. Pois, assim como diariamente cometemos muitas faltas contra Deus e ele, não obstante, tudo perdoa por graça, assim também nós continuamente devemos perdoar a nosso próximo que nos inflija dano, violência e injustiça, proceda com maligna astúcia contra nós, etc. Agora, se você não perdoa, então não penses que Deus lhe perdoa. Se, porém, você perdoa, então tens o consolo e a certeza de que você é perdoado no céu. Não em vista do teu perdoar – pois Deus o faz inteiramente de graça, porque o prometeu, conforme ensina o Evangelho; mas ele nos põe isso para fortalecimento e segurança, como sinal, a par da promessa, que concorda com esta oração Lucas 6[.37]: “Perdoai, e sereis perdoados”. Razão por que Cristo também a repete logo depois do Pai Nosso, dizendo Mateus 6[.14]: “Porque se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará, etc.”

-- Bem-aventurado Martinho Lutero (1483-1546), doutor e reformador da igreja (Catecismo Maior, OSel 7, 414)

17/06/2013

No Evangelho Cristo se dá com tanta simpatia com os pecadores

"Parábola da dracma perdida" (1618-22), Domenico Fetti (c. 1589-1623)
Cristo estava repleto de toda a justiça, e poderia mui justamente ter condenado a todos nós como pecadores. Mas ele não fez isso. O que ele fez, então? Ele entregou a si mesmo para ser nosso Servo. Sua justiça serviu pelos nossos pecados, sua retidão pela nossa fraqueza, sua vida pela nossa morte. Isto está ilustrado, para o nosso exemplo, no Evangelho diante de nós, onde ele se dá com tanta simpatia para com os pecadores, causando a murmuração dos fariseus. O Senhor então põe diante deles as seguintes parábolas para ensinar como eles devem receber pecadores e estar a serviço deles, dizendo: “Que homem dentre vós, tendo cem ovelhas e tendo perdido uma delas, não deixa as noventa e nove no deserto e vai em busca da que se perdeu, até encontrá-la, etc. Ou qual a mulher que, tendo dez dracmas de prata, se perder uma dracma, não acende a candeia e varre a casa, buscando com diligência até encontrá-la?”
-- Homilia do bem-aventurado Martinho Lutero para o Terceiro Domingo após Trindade (S. Lucas 15.1-10), publicado em sua Postila da Igreja de 1523 (The Sermons of Martin Luther IV. Grand Rapids: Baker Book House, p. 63)

09/06/2013

Nenhum daqueles homens que foram convidados provará a minha ceia

"Parábola da Grande Ceia" (1900), de Eugene Burnand (1850-1921)

“Porque eu vos digo: que nenhum daqueles homens que foram convidados provará a minha ceia.” [S. Lucas 14.24]

Estas palavras são a conclusão e resumo da leitura do Evangelho, que aqueles que são os mais determinados e querem provar desta ceia, não provarão dela. A razão é a que você já ouviu. Portanto, em síntese, os convivas, que aqui são convidados e não vieram, são aqueles que imaginam que podem obter a ceia através de suas próprias obras, se empenham bastante e tão certos de seu pretexto, querem provar da ceia. Mas o Senhor conclui com palavras poderosas e diz: “que nenhum daqueles homens que foram convidados provará a minha ceia”. Por que, então, querido Senhor? Eles nada fizeram de ruim e tampouco têm se ocupado com falsos ensinamentos. O porquê, o motivo é que eles negam a fé e não a confessam publicamente diante de todos, e não estimam esta rica e preciosa ceia acima de todas as coisas.

-- Homilia do bem-aventurado Martinho Lutero para o Segundo Domingo após Trindade, publicado em sua Postila da Igreja de 1523 (The Sermons of Martin Luther IV, Baker Book House, p. 38)

07/06/2013

Venham, que tudo já está pronto!

“A Parábola do Grande Banquete”, de Cornelis Droochsloot (1630–1674)

Quando chegou a hora da ceia, mandou o seu empregado dizer aos convidados: “Venham, que tudo já está pronto!” — Mas eles, um por um, começaram a dar desculpas.” (São Lucas 14.17-18a)

Se você, estimado amigo, não vê razão ou necessidade de participar do sacramento (da santa ceia), não seria essa frieza e falta de vontade de participar um mal e uma necessidade grande que chega? Que é isso senão frieza e falta de vontade de crer, agradecer e meditar sobre seu querido Salvador e todos os benefícios que ele conseguiu para você por meio de seu amargo sofrimento, resgatando-o do pecado, da morte e do diabo, e dando-lhe justiça, vida e salvação? De que maneira, pergunto, você espera acabar com essa frieza e vencer essa falta de vontade? Como espera ativar sua fé? Como pensa que vai estimular-se a dar graças? Quer esperar que isso lhe sobrevenha automaticamente ou até que o diabo lhe dê uma chance? Isso não vai acontecer nunca. Aqui, ao sacramento é que você precisa encostar e apegar-se. Ele é fogo capaz de incendiar os corações. É em face do sacramento que deve pensar em suas necessidades e sede, ouvir e crer nos benefícios de seu Salvador. Então ficará aliviado seu coração, e seus pensamentos serão outros.

- Homilia do bem-aventurado Martinho Lutero (1483-1546), doutor e reformador da igreja.

17/05/2013

Pentecostes - O Dom do Espírito Santo

"A Descida do Espirito Santo" (1618-1620), de Antoon van Dyck (1599 - 1641)


Observe aqui, o Espírito Santo desce e enche os corações dos discípulos que estavam reunidos em meio a temor e tristeza. Ele torna as suas línguas ardentes e soltas e inflama-os com amor até ousarem na pregação de Cristo - até a enunciação livre e destemida. Obviamente, então, não é ofício do Espírito escrever livros ou instituir leis. Ele escreve nos corações dos homens, criando um novo coração, para que o homem possa se alegrar diante de Deus, plenos de amor por ele e, consequentemente, prontos para servir seus semelhantes com gratidão.
Quais meios e processos o Espírito emprega para mudar e renovar o coração? Por meio da pregação de Jesus Cristo, o Senhor, como o próprio Cristo diz (São João 15.26): “Quando, porém, vier o Consolador, que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que dele procede, esse dará testemunho de mim”. Como temos ouvido muitas vezes, o Evangelho é a mensagem que Deus teria pregado no mundo inteiro, declarando a cada indivíduo que, uma vez que ninguém pode, através da Lei ser justo, mas deve antes tornar-se mais injusto, Deus enviou seu próprio Filho para derramar o seu sangue e morrer pelos nossos pecados, dos quais não poderíamos ser libertados por nosso próprio esforço.

-- Homilia do bem-aventurado Martinho Lutero sobre Atos 2.1-13 para o Domingo de Pentecostes, publicado em sua Postila da Igreja de 1523 (The Sermons of Martin Luther VII:332-333 (Baker Book House, 1983)